A protagonista, Scarlett Vandermeer, é uma atleta de saltos ornamentais que enfrenta o desafio de se reerguer após uma grave lesão. Sua vida é uma mistura intensa de treinos exaustivos e dedicação aos estudos de medicina, criando um ritmo de vida pesado e cheio de responsabilidades. Scarlett não quer chamar atenção, mas o destino tem outros planos, e ela logo se vê diante de Lukas Blomqvist, um nadador prodígio, campeão olímpico, igualmente dedicado aos estudos e à excelência esportiva.

O encontro entre Scarlett e Lukas começa com um acordo pragmático, mas aos poucos se transforma em algo profundo, terno e apaixonante. Essa transição é explorada com maestria pela autora: o romance se desenvolve de forma orgânica, respeitando o tempo necessário para que os protagonistas construam confiança, intimidade e admiração mútua. É o que chamamos de slow burn, aquele romance em que a tensão e o desejo crescem lentamente, deixando o leitor ansioso por cada interação.

O grande mérito de Hazelwood está na construção dos personagens. Scarlett é uma protagonista rica em camadas: determinada, corajosa, inteligente, mas também vulnerável e humana. Sua jornada de superação — lidar com a lesão, recuperar a confiança em si mesma e conciliar a pressão acadêmica — é contada com sinceridade e profundidade. Ela não é apenas uma atleta ou uma estudante exemplar; ela é uma pessoa que sente, erra, aprende e cresce a cada capítulo. Por outro lado, Lukas é o equilíbrio perfeito. Misterioso, confiante e encantador, ele se mostra paciente, atento e genuinamente interessado no bem-estar de Scarlett. Sua dedicação e cuidado são constantes, mas nunca invasivos, mostrando que o amor pode ser intenso sem precisar ser controlador.

Além do romance, Hazelwood aborda temas relevantes que dão peso à narrativa. Saúde mental, autoestima, pressão por resultados e medo do fracasso são tratados de maneira realista. A autora consegue inserir essas questões dentro da história sem tornar o texto pesado ou didático, mostrando como a vida de atletas de alto rendimento é cheia de desafios emocionais, não apenas físicos. O tratamento desses assuntos torna os personagens mais humanos e cria identificação imediata com o leitor.

Outro destaque da obra é a forma como o esporte é retratado. Não é apenas pano de fundo: a natação e os saltos ornamentais são explorados com detalhes, mostrando os treinos exaustivos, a disciplina necessária e o impacto emocional das competições. A pressão por desempenho, a busca por excelência e a necessidade de superar traumas tornam a trajetória de Scarlett ainda mais inspiradora. Cada conquista e cada queda dela ressoam com o leitor, criando uma experiência de imersão intensa.

A química entre Scarlett e Lukas é outro ponto alto do livro. As interações são cheias de humor, tensão e momentos de carinho genuíno. Hazelwood inclui cenas mais ousadas do que em suas obras anteriores, mas sempre de forma natural e contextualizada. O romance não se resume ao desejo físico; ele é construído com cuidado, atenção aos detalhes e respeito às emoções dos protagonistas. A dinâmica entre eles é encantadora e faz com que o leitor torça por cada passo da relação, mesmo diante dos conflitos e obstáculos.

Em termos de escrita, Ali Hazelwood continua entregando um texto envolvente e fluido. Seus diálogos são inteligentes, divertidos e cheios de personalidade. A autora consegue equilibrar humor e emoção, criando momentos leves e também profundos. Pequenos detalhes, como a maneira como Scarlett usa hipérboles ou como Lukas reage de forma gentil e carinhosa, tornam a leitura ainda mais cativante. Para os fãs do Aliverso, a presença de personagens de livros anteriores, como Adam e Olive, é um bônus emocionante, reforçando o senso de continuidade e pertencimento a esse universo literário.

Embora a história seja focada principalmente em Scarlett, o romance entrega um desenvolvimento emocional sólido para ambos os protagonistas. Alguns leitores podem sentir falta de um ponto de vista de Lukas mais aprofundado, mas mesmo assim, sua presença é sentida de forma constante e intensa ao longo da narrativa. A construção do relacionamento entre os dois é gradual e realista, mostrando que confiança, respeito e apoio mútuo são fundamentais para um amor duradouro.

É importante também mencionar que, mesmo com toda a fofura e química entre os protagonistas, Hazelwood não deixa de lado conflitos e antagonismos que enriquecem a narrativa. A personagem Penélope, por exemplo, provoca sentimentos contraditórios: irrita em diversos momentos, mas é essencial para a evolução da trama e para que Scarlett e Lukas possam se aproximar ainda mais. Esses conflitos adicionam camadas à história e tornam a leitura mais envolvente.

No geral, No Fundo É Amor é uma obra que combina romance, superação, humor e profundidade emocional. É uma leitura envolvente, perfeita para quem gosta de histórias com protagonistas fortes, relacionamentos construídos com cuidado e uma narrativa que mistura leveza e intensidade de maneira equilibrada. Scarlett e Lukas formam um casal memorável, e a jornada deles nos lembra que o maior salto que alguém pode dar muitas vezes não é no esporte, mas no coração.

Se você procura um romance universitário que explore atração, química, superação de traumas, pressão por resultados e crescimento pessoal, este livro é uma leitura imperdível. Além disso, para fãs da autora, ele reafirma por que Hazelwood consegue conquistar leitores repetidas vezes: sua capacidade de criar personagens cativantes, romances lentos e envolventes, e tramas que combinam leveza com emoção genuína é simplesmente única.

Em resumo, No Fundo É Amor é uma leitura deliciosa, envolvente e intensa, perfeita para quem quer se apaixonar por personagens reais, torcer por um casal inesquecível e se emocionar com uma história de amor que ultrapassa limites. Este é, sem dúvida, mais um acerto de Ali Hazelwood, consolidando seu talento em criar romances que ficam na memória muito depois da última página.