Resenha livro Sinais do amor - Hannah Bonam Young - Leitura Fascinante - Tudo sobre livros

Resenha livro Sinais do amor - Hannah Bonam Young

by - março 12, 2025

Algumas histórias vão além do romance e conseguem tocar o coração de quem lê com temas profundos, personagens cativantes e um enredo que nos faz refletir sobre a vida. Sinais do Amor é exatamente esse tipo de livro.

Sinais do amor livro


SINOPSE:

Chloe sempre se sacrificou para agradar os outros, marcada por uma infância difícil e o desejo de retribuir o que recebeu ao ser adotada por uma boa família. Quando descobre que sua mãe biológica, uma mulher com um histórico de vício e negligência, teve outro bebê, Chloe luta para conseguir a guarda da irmã. Porém, sem recursos suficientes, ela precisa participar de um programa social, no qual dois guardiães em potencial dividem um apartamento cedido pelo departamento de proteção à criança até que consigam provar que são capazes de arcar com essa grande responsabilidade.

É aí que Warren surge na vida de Chloe. Ele é um aprendiz de mecânico mal-humorado que está determinado a conseguir a custódia de seu irmão surdo de quinze anos. Desde o início, a antipatia entre eles é clara. Chloe e Warren são completamente opostos, mas, forçados a conviver, acabam descobrindo que têm mais em comum do que imaginavam. Ao compartilharem histórias de rejeição e traumas, o que começou como uma situação forçada evolui para um vínculo natural. Enquanto a convivência revela um lado mais fofo de Warren, a química entre eles cresce perigosamente, colocando em risco a estabilidade que tanto lutaram para conquistar.


MINHA OPNIÃO:

Sinais do Amor, de Hannah Bonam-Young, é um romance contemporâneo que une emoção, representatividade e ternura em doses equilibradas. A trama acompanha Chloe, uma jovem de 24 anos que cresceu sem uma base familiar sólida, passando por lares adotivos e experimentando de perto a sensação de abandono. Sua vida muda completamente quando sua mãe biológica, uma mulher que sempre lutou contra o vício e nunca conseguiu ser presente, reaparece para deixar em suas mãos um bebê recém-nascido. Diante da chegada inesperada da pequena Willow, Chloe sente que não pode permitir que a irmã repita o mesmo destino que ela. Determinada, decide lutar pela guarda da criança, mesmo sem saber se está pronta para tamanha responsabilidade.

Mas assumir esse papel não é simples. Chloe precisa provar às autoridades que é capaz de oferecer estabilidade financeira e emocional. É nesse contexto que surge Warren, um mecânico rabugento e reservado que também tem sua própria batalha: conseguir a custódia do irmão adolescente, Luke, um garoto de 15 anos que é surdo. Warren tem os recursos, mas não possui um lar adequado para dividir com o irmão. Chloe tem a casa, mas não a renda. Assim, eles entram em um programa social que os obriga a dividir um apartamento até que consigam demonstrar que estão aptos a assumir a guarda definitiva das crianças.

A convivência entre Chloe e Warren começa repleta de conflitos. Ela é calorosa, acredita em criar vínculos e sonha com um ambiente acolhedor. Ele, por outro lado, é seco, desconfiado e não deseja se aproximar além do necessário. No entanto, a rotina compartilhada, os desafios práticos e a necessidade de apoiar os irmãos aproximam esses dois opostos. O que inicialmente parece apenas uma parceria circunstancial se transforma em algo muito mais significativo. Surge um romance construído lentamente, marcado por faíscas, diálogos carregados de sarcasmo e momentos de vulnerabilidade que revelam lados inéditos de cada personagem.

O que torna Sinais do Amor especial é a forma como Hannah Bonam-Young equilibra os elementos da trama. O romance não é o único foco. A história mergulha em questões delicadas como abandono parental, adoção, vício, saúde mental e acessibilidade. Ao apresentar Luke, um adolescente surdo, a autora insere a Língua de Sinais no cotidiano dos personagens de maneira natural, sem que pareça um detalhe forçado. A comunicação se torna parte essencial da construção familiar e também um elo poderoso entre Chloe, Warren e Luke. Essa escolha narrativa não só dá representatividade à comunidade surda, como reforça a mensagem de que a linguagem vai além das palavras faladas.

Os personagens são, sem dúvida, o ponto alto do livro. Chloe é uma protagonista que conquista de imediato. Não porque seja perfeita, mas porque é real. Ela carrega cicatrizes emocionais, inseguranças e medo de falhar, mas, apesar disso, continua acreditando na possibilidade de oferecer algo melhor para Willow. Sua força vem justamente da vulnerabilidade, da coragem de assumir responsabilidades mesmo sem garantias de sucesso. Warren, por sua vez, é o típico personagem que começa como um muro de pedra, difícil de alcançar. Ele é prático, objetivo, muitas vezes ríspido, mas aos poucos a narrativa revela sua sensibilidade, sobretudo na forma como se dedica a Luke e, mais tarde, a Chloe. Seu arco de crescimento é emocionante porque mostra que, por trás da casca dura, existe um homem disposto a aprender a confiar novamente.

Luke não é um coadjuvante apagado. Sua presença dá ritmo e significado à narrativa, mostrando como a acessibilidade — ou a falta dela — influencia diretamente a vida de uma pessoa. Cada gesto em Libras, cada barreira enfrentada, cada pequena vitória de comunicação adiciona uma camada de humanidade à história. Willow, ainda que seja um bebê, funciona como símbolo de esperança. Ela representa a chance de recomeçar, de quebrar ciclos e construir um futuro diferente.

A relação entre Chloe e Warren é construída de forma lenta e cuidadosa, no estilo slow burn, e essa decisão da autora faz todo sentido diante dos traumas de ambos. Nada acontece de forma precipitada. O afeto nasce da rotina, das responsabilidades compartilhadas, das conversas que começam como discussões e terminam em confidências. O romance não apaga as dificuldades, mas se mistura a elas, mostrando que amar também é enfrentar o peso da vida ao lado de alguém. Essa construção respeitosa faz com que o relacionamento seja crível e emocionante.

Outro ponto que merece destaque é a escrita de Hannah Bonam-Young. A autora tem uma narrativa envolvente, fluida e repleta de empatia. Ela consegue falar de temas sérios sem transformar a leitura em algo pesado. Há momentos de humor, principalmente nos diálogos afiados entre Chloe e Warren, que funcionam como respiro diante das dificuldades. A alternância entre ternura, drama e leveza é bem dosada, o que mantém o leitor preso à história. É um livro que se lê rapidamente, mas que deixa reflexões que permanecem.

Sinais do Amor também é uma história sobre família encontrada. O livro defende a ideia de que o lar não precisa estar ligado a laços de sangue, mas sim à presença, ao cuidado e à escolha diária de permanecer ao lado do outro. Essa mensagem se fortalece no decorrer da narrativa e atinge o leitor de forma direta, principalmente porque os personagens foram abandonados em algum momento de suas vidas. A decisão de criar juntos um novo núcleo familiar é tanto um ato de resistência quanto de esperança.

Embora seja um livro repleto de emoções, ele não aposta em grandes reviravoltas dramáticas. O conflito principal é o dia a dia, as exigências do sistema de adoção, as dificuldades financeiras e emocionais, e os próprios medos internos de Chloe e Warren. Alguns leitores podem sentir falta de um clímax mais intenso, mas a suavidade do desfecho combina com o tom geral da obra. A proposta não é entregar um romance turbulento, mas sim uma história que aquece o coração, mesmo quando fala de feridas dolorosas.

No conjunto, Sinais do Amor é uma leitura que mistura romance, representatividade e reflexões profundas sobre pertencimento. É um livro que mostra que o amor pode nascer nos lugares mais improváveis, que laços podem ser reconstruídos e que a empatia é uma forma poderosa de transformação. Para quem gosta de romances contemporâneos, de histórias de família encontrada e de narrativas que unem leveza e profundidade, essa é uma obra que merece estar na lista de leituras. Chloe, Warren, Luke e Willow não ficam apenas no papel. Eles deixam a sensação de que, mesmo diante do abandono, ainda é possível criar lares seguros, onde o amor é escolha e presença.








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